Ao cruzar o Atlântico, Jo Frost, a Supernanny, perde o seu olhar cientificista e ganha um tom de Mc Donald's
Certo dia, eu estava batendo aquele papo informal no fumódromo do trabalho, quando Kadão, o editor de
fotografia de Zero Hora, lançou o seguinte argumento que explica o porquê de ele não gostar de reality shows britânicos: "eles têm um ar cientificista, parece que tudo é um grande experimento". E é difícil de discordar. A famosa polidez britânica está evidente nos programas de TV. Para comprovar, basta assistir a versão americana de Supernanny. Fotografia, edição, trilha sonora, narração... o que antes pecava pela frieza, agora peca pelo pastelão.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVy-rbeyh-r9REAZ9LgCwyT3GcW82tWFYHiMrxKNpkZ2RTwdSPKD8TWJsUKc1yMah-XoQHg9FvzyAyJvV6pduZx1uG0T7bjQICIdnQPjdZjvi5L1hLL5hvUssvStASsU__xSvmC1u_VHX1/s200/snwh.jpg)
O programa mostra como as dicas de Supernanny podem ajudar as famílias a controlar os filhos endiabrados. Jo Frost, uma gordinha que está sempre de roxo e preto (uma Mary Poppins sem superpoderes), ensina técnicas para um melhor convívio entre pais e filhos.
Antes, Supernanny tinha um narrador sóbrio, o tom cinza de Londres reinava na tela, a trilha sonora era quase inexistente e a edição era linear e seca. Jo Frost, porém, foi para o canal americano ABC. E ganhou novas roupas. Continua com o roxo, mas usa também jeans. Seu programa também ganhou novo guarda-roupa. Jo narra as histórias das família, sempre com um tom opinativo. Os depoimentos dos personagens têm apelo emotivo e estão sempre embasados nos valores tradicionais da família: amor, respeito, felicidade e tudo de bom. A trilha sonora pode ser comparada a uma orquestra de circo: quando os pais metem os pés pelas mãos, entra aquele tum-tum de quando o palhaço leva um torta na cara. As cores são mais quentes e a direção abusa nos close-ups. Jo virou um Mc Lanche Feliz.
Kadão não gosta das cientifices britânicas. Eu gosto. É uma boa diversão deixar se enganar pela tv, como se tudo que bastasse para salvar as famílias modernas fosse um cantinho do castigo, uma conversa mãe-e-filha e um passeio no parque no fim-de-semana. Desde que isso seja apresentado com uma frieza digna da rainha-mãe. Senão, fica claro que o programa é uma mentira, uma fraude, uma manipulação da realidade. E se você sabe dessas quando vê TV, pra que ver TV, então?
Aqui vão dois vídeos do YouTube: o primeiro da babá na Inglaterra e outro de Jo Frost na América. Soa diferente para você também?
Supernanny at the tube
Supernanny Yooba-Doobee
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