alb0n de família

26/02/2008

O fim da boa telenovela

"Isso que ainda passa na televisão todas as noites no horário nobre parece gringo tentando sambar: reconhecemos o esforço de cópia, mas não o frescor do produto original."

Essa frase aí de cima foi tirada da coluna na página 3 de Zero Hora de Claudia Laitano, editora de cultura e variedades do jornal, que me fez pensar sobre o que se passa no Projac.


Queria destacar dois pontos da coluna, nos quais Cláudia Laitano afirma: "Pressionadas pela concorrência ilimitada de outras opções de entretenimento, na televisão por assinatura, no computador e mesmo na própria televisão aberta, as novelas parecem ter perdido o ingrediente mágico que era a essência do seu sucesso: a capacidade de conquistar um público heterogêneo contando uma boa história de forma simples e eficiente", e ainda: "...os autores, coitados, sem a alegre inconseqüência dos tempos de audiência garantida, mal conseguem disfarçar a falta de rumo que os atormenta".

Esses dois trechos são um rápido olhar sobre os dois principais males da nova geração de telenovelas: falta de criatividade e tramas mal-desenvolvidas.
Os escritores perderam a mão. Os motes dos enredos estão se tornando cada vez mais sem sal. É só lembrar das últimas três novelas das oito, antes de Duas Caras. De Gilberto Braga e Ricardo Linhares, Paraíso Tropical, contava a história de uma mulher que descobriu que tem uma irmã gêmea - preciso dizer que uma era má e outra era boa ou você já está contente com os clichês? Páginas da Vida era sem-graça já no nome. Helena lutava para ficar com a menina com Síndrome de Down, Clara, cuja mãe foi morta em um atropelamento e cuja avó a abandonou na maternidade - quer mais tragédia do que isso? Sua antecessora, Belíssima, contava a história de uma rica empresária do mundo da moda que perdia tudo e se envolvia numa confusa trama de assassinatos: uma mistura de Rainha da Sucata e A Próxima Vítima. Todas as três são do mesmo autor, Silvio de Abreu, resolvendo sua falta de inspiração numa releitura de sua própria obra.

O outro pecado cometido pelos escritores de novelas é inacapacidade para bolar estórias que tenham início, meio e fim. Morreu o esquema clássico de construção narrativa (aquele famoso pelos "pontos de virada" no decorrer da história de um personagem central, que tem um objetivo maior alcançado somente no final). Agora as tramas estão descentralizadas: elas têm um número absurdo de personagens - Páginas da Vida, por exemplo, tinha mais de 100. O personagem principal, muitas vezes, não conhece metade do universo da novela. Assim, com esse novo ritmo, a ficção televisiva ficou suscetível a má resolução das tramas e, por conseqüência, deixa um gosto insosso na boca do espectador.


A solução é esperar a Janete Clair reencarnar por aí. Ou fazer uma assinatura da Net.

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